Queria menos links na internet
#17 -- quase cancelando meu pacote de rede depois da coletânea Queria ser grande, mas desisti; uma conversa paralela sobre newsletters
Chegou aqui na semana passada o livro Queria ser grande, mas desisti, a coletânea de textos da newsletter de Bárbara Bom Angelo. A encomenda veio logo pela manhã, diferentemente dos e-mails da Barbara que são enviados em horários pouco ortodoxos, na madrugada entre quinta e sexta-feira.
Acordo na manhã de sexta, um horário especialmente fértil para newsletters brasileiras, e o e-mail já está na caixa de entrada. Falando sobre uma leitura recente, sobre um episódio de maternidade, sobre a vida em geral. São poucos parágrafos, uma leitura curtinha que sempre me deixa impressionada com o poder de síntese da Bárbara (alerta de jornalista na área).
No livro, inicialmente vendido em campanha de financiamento coletivo (e agora provavelmente já esgotado; melhor checar com a própria autora, caso te interesse), a experiência de leitura é a de reservar uma tarde de folga pra ler arquivos das edições antigas da newsletter. A vantagem é poder acompanhar a seleção previamente feita, sem precisar ficar escolhendo o próximo clique a partir de algum título ou imagem que chame a atenção.
Comecei a ler assim que tirei meu exemplar da embalagem e só deixei de lado quando fui tragada por Pachinko, que me acompanhou no feriado de carnaval. Quando retomei a leitura, foi logo no texto “A troca de alianças na literatura”, que começa falando sobre casamentos nas obras de Jane Austen e chega em Pachinko. Coincidência das boas.
O livro me deixou pensando que a tarefa de olhar para os textos do passado exige coragem, desprendimento. Para ninguém morrer caso se depare com um texto ruim. Acontece. Sempre que releio meus arquivos, faço isso com um olho aberto e o outro fechado, tentando resistir à ideia de que tudo o que já foi escrito e publicado não serve mais, ficou no passado, que se perca na caixa de entrada de quem tem mais de cinco mil e-mails não lidos.
Deixando a insegurança pra lá, foi interessante ler textos de uma newsletter sem a distração dos links recomendados ao final de um e-mail, que direcionam o pensamento pra outro lugar às vezes muito distante do que você acabou de ler. No livro, a recorrência dos temas e a continuidade do ato de ler um capítulo atrás do outro garantem uma sensação de unidade. Na leitura semanal, essa sensação acaba se dispersando.
Quando penso em newsletters, o espaço de leitura já é mais calmo que o de uma timeline de rede social, mas ainda assim eu me sinto consumida por sentir que a curadoria de “melhores da semana” está tentando me sequestrar, me levar a algum lugar, a vários lugares, a todos os lugares. Mesmo que eu não esteja interessada o suficiente.
É até irônico pensar que talvez eu esteja cansada de ser tentada por tantos links por aí considerando que conheci a newsletter da Bárbara nos links recomendados de alguma outra publicação.
O meu problema não é com as recomendações em si. E sim com o caráter de urgência. (Essa semana eu escrevi essa palavra como carácter, que ano é hoje, até agora estou pensando no ato falho). Tudo é imperdível na internet. Eu mesma me questiono se costumo buscar recomendações para a newsletter querendo mostrar que fui capaz de me interessar por algum conteúdo relevante nos últimos tempos. Quando, no fundo, estou aqui é pela conversa paralela.
outra dose (só pra me contrariar)
A newsletter do Rodrigo Ghedin não fica disponível para visitação aos finais de semana (isso foi o recurso de preenchimento automático da minha cabeça que escreveu). Melhor garantir a assinatura antes da próxima edição. A última foi sobre o lugar de fala de viajante ocasional que NÃO gosta de viajar. (Pois é!). Dá pra ler mais no blog no Rodrigo:
Descrever-se é difícil. Há uma linha tênue entre mostrar seu melhor lado e soar esnobe e, frente a esse dilema, não é raro nos apegarmos a clichês. “Gosto de ver filmes”, “adoro comer”, “vivo para viajar”. Quem não gosta disso tudo? Bom… eu não curto muito viajar.
Digo, até gosto, mas não faço questão, de modo que viajo quase sempre arrastado — a trabalho ou por alguém; nos últimos anos, pela P.
Nossa, seu comentário sobre as dicas de todo mundo conversou muito comigo, especialmente quando comprei 2 livros por recomendação de newsletters que adoro mas descobri que eram leituras que não me agradavam de forma alguma. Uma cheguei a terminar, a outra abandonei no 1º terço. Parei de salvar as recomendações de leitura na lista de desejos da amazon ou as séries e filmes na "minha lista" da netflix ou ficar baixando torrents mil que nunca serão assistidos. Das coisas que eu gostaria de estar fazendo mais: ler os livros que já tenho, estudar mais (comecei uma nova graduação há 2 semanas), fazer atividade física diariamente. Mas consumo todo meu tempo livre no instagram, ouvindo podcast (que são muito informativos, mas deus, são muitos) e lendo newsletter. Hahahaha.
Eu amei essa reflexão, Lu! Me incomoda muito e eu deixo de acompanhar newsletters que tem muuuuitos links, parece uma competição pra ter mais indicações. Muitas vezes o meu leituras recomendadas tem só 3 e eu fico achando pouco, mas ao mesmo tempo sempre penso que seria algo como o número de recomendações que eu veria se tivesse recebendo. Como alguém disse no tuiter: "livros seguem sendo um dos únicos lugares livres de publicidade".